[…] Nossa Filosofia Espiritualista, filha das Forças Superiores, sua joia predileta, que a nós foi confiada para sua divulgação na Terra, deve ser divulgada, deve ser explanada, deve ser respeitada e obedecida por aqueles que na Terra se dizem seus instrumentos, e o devem ser de fato […]
- Luiz Alves Thomaz

Luiz Alves Thomaz - A Gazeta do Racionalismo Cristão

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Nascido em Portugal em 4 de agosto de 1871, Freguesia e Conselho de Castanheira de Pera, Distrito de Leiria, Luiz Alves Thomaz, com apenas quinze anos de idade, imigrou para o Brasil em 28 de maio de 1887, desembarcando no porto de Santos.

Tendo se associado, em 1888, a seu irmão Manoel Alves Thomaz, que já trabalhava na praça de Santos, em negócio de secos e molhados, importação e comissões de mercadorias, Luiz Thomaz manteve a sociedade até julho de 1908, acumulando, nesse período, regular fortuna. Ao retirar-se da sociedade, coube a Luiz Thomaz uma parte em dinheiro e outra representada por quatro fazendas de café, no Estado de São Paulo.

O primeiro encontro de Luiz Thomaz com Luiz de Mattos, que fatos posteriores vieram a evidenciar ser esperado pelas Forças Superiores, deu-se em 1909, na casa comercial de um próspero empresário, proprietário de uma torrefação de café, de nome Manuel, e de ambos amigo.

Esse cidadão, que, da mesma forma como o fazia Luiz Alves Thomaz, frequentava uma casa espírita em Santos, vinha tentando, há muito, fazer-se acompanhar de Luiz de Mattos quando para lá se dirigia, mas nunca obteve êxito nesse objetivo, porque este não aceitava o que ali se fazia.

Finalmente, certo dia, Luiz Alves Thomaz, presenciando a reiteração insistente do convite, dirigiu-se a Luiz de Mattos, a quem já conhecia das lidas comerciais, afirmando, categórico, que também iria, caso atendesse ao apelo do amigo comum. Luiz de Mattos, chegados os 50 anos de idade e recuperado de um recente ataque cardíaco, resolveu ceder ao pedido, sobretudo sensibilizado pela forma como o fez Luiz Thomaz, vislumbrando, ao acolher o convite, a oportunidade de examinar a sugestão do seu médico, Dr. Oliveira Botelho, de estudar o espiritismo como ciência, que explicaria certas enfermidades que a Medicina materialista não cura.


À hora marcada, seguiram os três na direção dessa casa espírita. Luiz de Mattos ficou tomado de grande perplexidade quando, lá chegando, já à porta esperava-o um cidadão que lhe disse haver o Presidente Astral desse centro espírita, Padre Antônio Vieira, ordenado que assumisse ele a presidência dos trabalhos, o que foi aceito em razão da insistência desse cidadão e dos seus companheiros Luiz Thomaz e Manuel.

Estava dado, nesse momento, o primeiro passo para a implantação do Racionalismo Cristão.

Após um ano de exaustivos e profundos estudos sobre a vida fora da matéria, Luiz Thomaz e Luiz de Mattos estavam convictos de que haviam fincado os fundamentos para a construção de uma doutrina verdadeiramente cristã. Chegando à conclusão de que o espiritismo vinha sendo erroneamente praticado e, em razão disso, mal compreendido, resolveram Luiz de Mattos e Luiz Thomaz fundar um centro espírita para estudo, prática e divulgação do verdadeiro espiritualismo, dedicando-se ambos, a partir de então, de corpo e alma, às responsabilidades assumidas perante as Forças Superiores.

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Em prédio de propriedade de Luiz Alves Thomaz, situado na Rua Amador Bueno n° 190, na cidade de Santos, realizou-se, em 26 de janeiro de 1910, a primeira reunião para a elaboração do estatuto, eleição da diretoria e escolha do nome da entidade que estavam instituindo, decidindo-se no sentido de que a mesma deveria ser designada como Centro Espírita Amor e Caridade. No entanto, devido à exiguidade do espaço e à grande frequência às sessões públicas, resolveu Luiz Thomaz, com a aprovação da diretoria, construir uma nova sede para o Centro em terreno por ele adquirido no n° 67 da Rua Ana Costa, no bairro de Vila Matias, na cidade de Santos.



A inauguração da nova casa do Centro Espírita Amor e Caridade ocorreu no dia 21 de junho de 1912, em imponente sessão cívica presidida por Luiz de Mattos com a presença de autoridades e numerosa assistência, que puderam apreciar as magníficas instalações, à altura do imponente edifício que as abrigavam.
No intervalo entre a decisão de construir uma nova sede para o Centro e a entrega ao público da nova casa, mais exatamente em 1911, considerando grandes os benefícios que o Espiritismo Racional e Científico (Cristão) – nome então dado à Doutrina – estava realizando em prol da humanidade, e que muito poderia ser realizado mediante campanha destinada à sua divulgação em um grande centro, decidiu a direção astral do Centro Espírita Amor e Caridade sobre a conveniência de Luiz de Mattos se transferir para a cidade do Rio de Janeiro, então Capital do Brasil. Essa providência foi adotada de par com a tomada, em 2 de outubro de 1911, da construção de uma Casa nessa cidade, em terreno adquirido por Luiz Thomaz no bairro de Vila Isabel, no nº 121 da Rua Jorge Rudge.

A aquisição, por Luiz Alves Thomaz, dos terrenos já mencionados e a construção dos prédios neles erguidos tornou-se possível em razão do firme propósito que se impôs de realizar, em sua existência física, vários negócios voltados exclusivamente ao objetivo de fazer crescer seu patrimônio, para destiná-lo à formação de uma estrutura econômica de sustentação da parte material da Doutrina.

Essa demonstração inequívoca da dedicação de Luiz Thomaz à Doutrina, e sem a qual a implantação do Racionalismo Cristão poderia não se viabilizar, foi reconhecida por Luiz de Mattos, como se vê de sua carta do seguinte teor:

"Rio, 3 de janeiro de 1912. Meu caro Luiz Thomaz. Acabo de receber a tua prezadíssima carta, a qual respondo. Faço hoje 52 anos, bem distante dos encarnados que mais amo, cheio de saudades por todos. Nunca nesta minha já longa e tormentosa existência me senti tão bem, tão alegre e tão feliz como hoje. É que tua carta, comunicando-me a resolução tomada sobre a construção de outra Casa foi o mais belo presente de anos; foi a mais grata saudação que minha alma de grande amigo dos que sofrem podia ter recebido. Chorei e choro ainda de prazer, de imenso prazer, por poder, ainda neste Planeta, observar almas grandes, almas puras, que colocam os seus deveres espirituais e o bem-estar desta humanidade sofredora acima de tudo e de todos. Chorei e choro de prazer, pela certeza absoluta de que nunca mais me separarei de ti, quer na Terra, quer no Espaço infinito e belo. Porque, quem assim procede, embora tivesse tido encarnações perdidas, terá resgatados os males feitos, é digno duma zona de grande luz. Irradio, pois, ao Grande Foco por tudo isso, por ti e pelas tuas obras, que vêm facilitar a minha missão nesta Grande Capital – onde há grandes infelizes, que só terão atenuados os seus sofrimentos por nosso intermédio e com os fluidos e doutrinações das Forças Superiores. Eu te agradeço do fundo de minha alma essa resolução que tanto bem faz ao teu progresso, ao meu e de toda a humanidade. Beijo a Amélia, a minha irmã, a Maria Thomazia, minha Mariazinha, e receba o meu grande e saudoso abraço. Luiz."

Em 24 de dezembro de 1912, era inaugurado, na cidade do Rio de Janeiro, o Centro Espírita Redentor, como Casa Chefe do Espiritismo Racional e Científico (Cristão), ficando todas as filiais construídas ou a construir a ele subordinadas, sob a responsabilidade do Presidente Perpétuo Luiz de Mattos e do Vice-Presidente Luiz Thomaz. A exemplo do que fez em relação ao prédio da Filial de Santos, Luiz Thomaz arcou com todas as despesas da construção, do mobiliário e dos equipamentos necessários ao bom funcionamento da Casa Chefe.

Em 1916, no louvável intuito de propagar a Doutrina, Luiz de Mattos e Luiz Thomaz fundaram o jornal A Razão, tendo Luiz Thomaz empregado vultosa quantia para esse fim, por entender tratar-se de realização que viria trazer benefícios para a humanidade.

Luiz Thomaz desencarnou às 10:15 min do dia 8 de dezembro de 1931, no Hospital da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, da cidade de Santos, onde fora internado no dia 25 de novembro, sendo sepultado no Cemitério de Paquetá.

Em Sessão Especial de Doutrinação de 12 de dezembro de 1931, na Casa Chefe, manifestou-se o espírito de Luiz Thomaz. Em sua comunicação, destaca-se a preocupação com a parte material da Doutrina a ele confiada quando encarnado, e que dava como finalizada ao chegar ao plano astral, delegando aos futuros responsáveis a relevante incumbência de gerir o patrimônio do Centro Redentor:

"A minha manifestação entre vós, amigos, não tem outro fim se não a solidariedade, a amizade, o apoio todo espiritual que doravante vos tributarei.

Quando na Terra, vivi mais materialmente do que espiritualmente. Trabalhei para a Doutrina mais materialmente do que espiritualmente porque pesava sobre os meus ombros a sua manutenção. Olhava para ela com os olhos mais da matéria do que do espírito, porque era preciso precavê-la dos salteadores. Mas, hoje, a coisa mudou de figura. Encaro-a conforme deve ser encarada, e desejo incentivar-vos para que se faça a sua explanação, respeitando os seus princípios"

Ao ensejo da abertura do testamento de Luiz Thomaz, eis desvendado, para aqueles que não o conheciam na intimidade, a grandeza do seu amor ao próximo. Parte de seus haveres havia-os destinado a instituições de beneficência em Portugal e no Brasil.

A fortuna que, em sua vida sem vícios, sem luxo nem ostentação, desprezando o supérfluo, fugindo às vaidades, amealhara, repartiu-a entre as casas que cuidavam dos desamparados de toda sorte, dos necessitados enfim. Ao Centro Redentor legou o usufruto perpétuo da maior parte de todos os bens remanescentes.

Até sua desencarnação, a não ser Luiz de Mattos, poucos sabiam quem fora e o que fizera Luiz Thomaz. Embora muitos tenham conhecimento hoje de sua vida de lutas em prol de seus semelhantes, da larga demonstração de fraternidade cristã, marcante de seus gestos, do quanto realizou para a sustentação material desta instituição da humanidade que é o Racionalismo Cristão, pouco se acabará dizendo do quanto seria devido registrar como justo tributo à sua memória.
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Silenciar, no entanto, quanto à sua bela trajetória terrena, marcante de amor ao próximo, seria cometer uma grande falta, imperdoável mesmo, não para com ele, que, na dimensão em que se encontra desinteressam rememorações de sua vida terrena, mas para com seus pósteros, que têm o direito de conhecer sua personalidade de escol, o grandioso espírito que, encarnado, demonstrou ser, e possam, na lembrança, na irradiação à sua grandeza astral, receber o seu eflúvio, que fortalece a vontade dos que sabem irradiar pensamentos de bem querer e conforta nas horas difíceis, de sofrimentos físicos ou morais.

Em 9 de março de 1935, Luiz Thomaz assumiu a Presidência Astral do Centro Redentor Filial de Santos